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Correspondente no Casal de S. Brás

Objectivo: ”coscuvilhar” assuntos aqui da terrinha e arredores.

Correspondente no Casal de S. Brás

Objectivo: ”coscuvilhar” assuntos aqui da terrinha e arredores.

1120 – Ordem Religiosa e Militar do Hospital (3)

correspondente, 18.10.14

“… Após a tomada de Jerusalém, Pascoal II postulou a bula Pie postulatio voluntatis, que
reconheceu os hospícios como estabelecimentos independentes, colocados diretamente sob a proteção do Papa. Essa bula, de 1113, criava uma ordem internacional filiando a ela todos os hospitais criados na Europa. Neste contexto, Gerardo foi capaz de erguer um novo hospital, ainda maior, adquirindo a igreja vizinha de São João Batista ao também libertar o estabelecimento da tutela beneditina. Segundo Florencio Huerta Garcia, a Ordem passou a se beneficiar com a generosidade de muitos cavaleiros e nobres, e já começava a acumular propriedades na França, Itália e Espanha (GARCIA et al., 1991, p. 25-37) Em posse destes bens, o Hospital iniciou o estabelecimento de diversas casas de assistência espalhadas por locais estratégicos da Europa, sobretudo ao longo das rotas de peregrinação. Na alvorada do sucesso da primeira Cruzada, o Hospital de São João recebeu ainda mais doações dos cruzados já estabelecidos nas terras conquistadas do Oriente, bem como de anônimos por toda a Europa, cuja ambição em auxiliar a Ordem se justificava pelo anseio em purificar a alma dos pecados terrenos. Esse enorme e constante fluxo de terras e riquezas iniciais contribuiria substancialmente para a consolidação da independência hospitalária, livrando-a dos laços econômicos que de certa forma ainda atavam a Ordem às antigas instituições que a suportaram.
Gerardo morreu em 1118. Seu sucessor, o francês Raimundo de Le Puy, alterou fundamentalmente o direcionamento da Ordem, que até então possuía apenas desígnios caritativos.
(…)
A carta de Bernardo circulou amplamente, e seu argumento parece ter sido adotado por muitos outros escritores, pensadores e líderes contemporâneos. Raimundo de Le Puy
seguiu o exemplo dos Templários, e uma inspiração militar foi cirurgicamente “enxertada” nos Hospitalários. Há evidências de que leigos doadores preferiam apoiar o envolvimento militar na defesa da Terra Santa ao invés de prezar pelo zelo a doentes e feridos. A origem da militarização da Ordem pode ter sido, ao menos em parte, uma resposta direta a esta preferência. Ao mesmo tempo, Raimundo de Le Puy tentava reforçar o seu propósito pacífico, oficialmente acrescentando o cuidado dos doentes aos deveres assistencialistas de albergues de peregrinos e cruzados. No intuito de adequar tais modificações à dinâmica do cenário, Raimundo de Le Puy
alterou profundamente a Regra da Ordem, em consonância com a Constituição dos Cavaleiros do Templo (SEWARD, 1972, p. 30). Neste ínterim, e quase imperceptivelmente, o patronato de João Esmoler foi substituído pela proteção de São João Batista.
(…)
Tanto Hospitalários quanto Templários, embora independentes e sujeitos apenas à jurisdição do Papa, contaram com o apoio integral de Balduíno II, que sucedeu seu primo. Eles forneciam aquilo que o reino mais precisava: uma fonte regular de soldados treinados e disciplinados. Contudo, como a Ordem do Templo provavelmente foi a primeira Ordem religioso-militar, é pouco provável que a Ordem do Hospital tenha encontrado espaço para tal transição em períodos anteriores. Como indicam os estudos de Luis García-Guijarro
Ramos, em 1126, os Hospitalários contam com a presença de um comandante supremo na ordem, mas isso significava apenas que possuíam cavalos e estrebarias, e não um contingente propriamente militar. A guarda dos castelos surge como um argumento mais contundente.
Em 1136, o rei de Jerusalém, Fulque, confiou a proteção do castelo de Bethgibelin, ao sul da Palestina, diretamente aos Hospitalários, no intuito de deter o avanço das forças muçulmanas.” Por Bruno Mosconi Ruy em As Origens da Ordem Militar dos Hospitalários