O que nasce torto …
… Nunca se endireita. É mais ou menos isto o que diz o dito popular. E não erra muito. Hoje parece que é o dia europeu do vizinho. E estes são mais ou menos como os nossos familiares, aparecem na nossa vida, mas não os podemos escolher. Uns são como o brinde do bolo-rei e outros são a fava. É uma questão de sorte.
No episódio que se segue, entra gás à mistura e, pelo nosso comportamento, pelo comportamento de nós os vizinhos nesta narrativa, de facto parece que estamos todos “gazeados”.
Tocam à minha porta.
- Senhor X cheira a gás aqui fora na escada, aqui junto à sua porta, não é aí de sua casa?
Pergunta-me a minha vizinha do lado depois de eu abrir a porta.
- Não, não me parece, não me cheira a nada e não estou a usar sequer o fogão.
Disse eu e confirmou o nariz da minha vizinha da porta de entrada.
Saio para a escadas e de nariz no ar, um e outro, acabamos por detectar o “foco” do cheiro a gás. É num dos contadores. É no do terceiro vizinho do andar. E a partir daqui tudo vai mal. Bastava ligar para o piquete e pronto. Mas não foi assim. Nós gostamos de complicar o que é simples. Tocou-se à campainha do vizinho várias vezes. Não abriu. Não estava em casa. O que se faz? O que não se faz? Estávamos os dois nisto, quando entra em cena um casal de vizinhos.
- Então isso é desligar aqui o contador e depois avisar o vizinho.
Disse e fez a esposa do dito casal.
O vizinho chegou ao final do dia e, quando a minha diligente vizinha do lado se apercebeu disso, foi avisar o vizinho do sucedido, para ele tomar as devidas medidas. Piquete nesse dia não veio nenhum. No outro dia, de tarde, parece que veio. Não sei se veio só para ligar o contador ou para detectar a fuga. Espero que tenha sido chamado e que tenha vindo para arranjar a coisa. Agora cheirar, de facto, parece não cheirar a nada.
Mas parece que entretanto alguém ficou muito chateado por os vizinhos terem mexido no seu contador, de lhe terem desligado um contador, possivelmente com uma fuga, sem o avisar. Como é que se avisa alguém que não está em casa e de quem ninguém tem outra forma de contacto? O que era preferível, um regresso a casa, a uma casa debaixo de escombros? Ou o regresso a um prédio com um ou dois vizinhos a menos por inalação de gás do seu contador? Acho que o preferível era mesmo o que não foi feito. Cheira a gás na escada? Chama-se o piquete sem mais delongas. O problema era resolvido por profissionais e, assim como assim, alguém iria ficar de mal com os vizinhos na mesma!