Bloqueado
Creio já ter escrito algo sobre isto mas como se repete aqui fica o sucedido.
A “crise” realmente aconteceu. Um dos meus “barómetros” para lhe tomar o pulso é a utilização do automóvel. Não há dúvida, esta, aumentou. Outro modo de “medir” o fim da crise são as saídas nocturnas. Não saio muito (ou nada) à noite mas pelo movimento, mais uma vez, do tráfego automóvel, durante a noite, mais às sextas-feiras e Sábados, dá para perceber isso, de que a crise ficou lá para trás.
E este preâmbulo todo para contar um episódio que até parece nada ter a ver uma coisa com a outra.
Há algum tempo que isto não acontecia. Aconteceu há dias. Esteve alguém, bem por baixo da janela do meu quarto, a tocar a buzina do seu carro, talvez uma meia hora, de manhã, entre as seis e picos e as sete e tal. Primeiro uma buzinadela de quando em vez e, à medida que o tempo ia passando, sem qualquer resultado, mais furiosamente. Estava bloqueado. Não conseguia sair. Alguém tinha chegado tarde, deixou o seu carrinho a bloquear a saída de outros e, sem preocupações, foi dormir o sono dos justos.
Quando eu estudava à noite, quando vinha da escola, mortinho por me enfiar na cama e, depois de dar várias voltas às redondezas (alargadas) á procura de estacionamento em vão, de facto, acabava por estacionar a atrapalhar a saída de outro. Outro escolhido a dedo. Estacionava perto de casa, normalmente, a “tapar” um automóvel cujo dono eu conhecia (bem como as suas rotinas matinais que seriam, em princípio, depois das minhas) mas, mesmo assim, dormia de ouvido à escuta, pronto a ir tirar o carro, caso fosse preciso, num ápice e, também pronto para apresentar as minhas desculpas pelos escassos minutos que esse meu vizinho tinha eventualmente esperado para eu o desbloquear.
Um vizinho que trabalhava de noite, quando chegava de manhãzinha, sem lugar para arrumar o carro e, imagino, morto de sono, arrumava atrás do meu, nunca combinou nada comigo, mas sabia que eu conhecia o carro e que a esposa, entretanto já a pé, vinha tirar o carro. Ela ou estava de olho quando me via sair, ou então eu mesmo tocava na campainha para avisar. Não esperava mais que uns minutos. O tempo necessário para ela descer as escadas. Compreendia a situação e não lhes levava a mal.
Hoje, observando estes comportamentos de “reizinhos”, não tenho dúvida, eu e esse meu vizinho, cheios de cuidados, fomos uns parvos.
Estes reizinhos nem uma buzinadela merecem. Perde-se o mesmo tempo, ou mais, mas que tal ligar logo para a polícia? Dar conta da situação. Outro carro está a bloquear o nosso. A impedir de irmos “à nossa vidinha”!
Voltando ao início do texto, isto acontece, provavelmente, apenas porque a dita crise acabou (ou está adormecida), apenas porque já temos uns troquinhos para dar de beber ao bólide (e para matar também a nossa sede e para sair à noite mas, em contrapartida, temos muita falta de respeito pelos outros!