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Correspondente no Casal de S. Brás

Objectivo: ”coscuvilhar” assuntos aqui da terrinha e arredores.

Correspondente no Casal de S. Brás

Objectivo: ”coscuvilhar” assuntos aqui da terrinha e arredores.

3ª Idade a idade da teimosia

correspondente, 03.10.14

A velhice não é um tema específico de qualquer lugar, portanto, também não o é do Casal de São Brás, mas sendo genérico, também o é deste lugar. E assim tenho um pretexto para abordar o tema aqui!
Oiço muitas vezes, na comunicação social, a ideia generalizada, a crítica aos filhos que não ligam aos pais, que os abandonam, que os “depositam” em lares da 3ª idade e pronto, por lá ficam e não querem saber mais deles.
Acredito que isso exista e que até seja a grande maioria, contudo, também existe o reverso da moeda.
Acreditem que é uma enorme frustração, dia após dia, observar a “degradação” dos nossos pais, ver que cada vez estão menos autónomos e, estes, ou por não acreditarem nas capacidades dos filhos, ou por pura teimosia, insistem em “comandar” as suas vidas.
3 Pequenos exemplos:
1. Recebem uma carta do senhorio a propor um aumento de renda e alteração no tipo de contrato. Pedem a um dos filhos para junto de um advogado ver se está tudo dentro da legalidade. Não, não está, um dos pontos deve ser contrariado, pela sua idade e rendimentos, estão salvaguardados nesse ponto. Nem querem ver a minuta da carta do advogado, aceitam as alterações do senhorio. Se era para isso, para quê “chatear” filhos e terceiros?
2. Um dos membros do casal sente uma dor forte numa das pernas e como não passa e o impede de andar vão às urgências do hospital. Fartos de lá estar horas à espera (e com razão), ligam para um dos filhos para ir ter com eles e ver o que aquilo vai dar. O filho chega às urgências diz ao pai que vá para casa que ele fica ali com a mãe. Ele vai e, a partir daí, não chega a passar uma hora, de 10 em 10 minutos, o pai está a ligar para o filho para desistir de estar nas urgências e para levar a mãe para casa. De facto, não só por isso, mas também porque, 4 horas depois, ainda não tinham chamado a mãe e, porque a informação era que ainda podiam esperar mais 4 horas, o filho acabou por desistir. Um mês depois a mãe ainda não está boa (apesar de estar melhor), nem sabe bem o que teve/tem, mas para o marido o importante é estar em casa ao lado dele!
3. Há uns dias um dos filhos levou um telefone sem fios para substituir o fixo que tinham. Pois sempre que ligava para casa dos pais quem atendia era o pai, pois a mãe está quase sempre na cama e, assim podia ter o telefone perto dela também. Para montar o telefone foi uma chatice, mas lá foi instalado, lá o filho explicou como funcionava e, mais tarde, quando o filho ligou de sua casa para os pais, já o pai tinha desinstalado o telefone sem fios!
Contrariar este estado de coisas é muito difícil e muito desgastante. A uma criança, em termos de saúde, por exemplo, quando vemos que algo não está bem com ela, pegamos nela e vamos com ela ao médico, mas a um adulto que marca uma consulta, que chega ao médico e não se lembra porque marcou a consulta e não se deixa acompanhar, quando o principal problema é mesmo esse, é necessitar com toda a certeza de uma consulta de neurologia, de ser reencaminhado pela médica de família, mas que não quer ninguém com ele nas consultas, como contrariar isto? Por muita boa vontade que exista, qual é a nossa vontade? É deixar andar e fingir que não é nada connosco. Mas palavra, tratando-se dos nossos pais, é difícil, é mesmo muito difícil!