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Como disse lá atrás, que não queria abordar de forma aligeirada estes (ou outros) temas, aqui fica um acréscimo substancial ao post anterior, “adquirido” na página da Câmara de Ponte de Lima. Pena é esse “acréscimo” de informação não vir “via” Câmara da Amadora, pois se esta pessoa até deu nome a um parque nesta cidade, possivelmente também foi “importante” por estas paragens, contudo, acredito, a informação deve até existir e, eu é que acabei por não chegar lá.
Delfim Guimarães (1872 - 1933)
Escritor e Poeta prestigiado, com extensa obra publicada. Fundador da Livraria Editora Guimarães.
Delfim de Brito Guimarães nasceu na freguesia de Santo Ildefonso (rua do Bonjardim, 184), na cidade do Porto, a 4 de Agosto de 1872. Era o terceiro dos seis filhos do limiano Delfim José Monteiro Guimarães Júnior, comerciante e jornalista e de sua mulher D. Maria Júlia Moreira de Brito Barreiros, natural desta cidade.
Delfim Guimarães passou a juventude e boa parte da sua vida em Ponte de Lima. Mesmo quando residiu e trabalhou noutras terras, evocava saudosamente a vila de Ponte de Lima. Em 1895, casou com D. Rosina Vieira da Cruz e foi pai de oito filhos. Foi no cemitério desta vila que se sepultou uma sua filha, precocemente falecida.
Depois dos estudos liceais no Porto, exerceu várias profissões e desempenhou diferentes cargos. Começou por seguir a carreira comercial com seu pai. Acompanhando a mudança da família para Lisboa, em 1890, trabalhou na empresa "O Século", primeiro como guarda- livros e mais tarde como administrador. Com o falecimento do pai, em 1899, que fora um heróico soldado liberal, jornalista e editor de Alberto Pimentel, administrou e reorganizou a revista "Mala da Europa", fundada em 1894. Terá nascido aqui a sua futura actividade como consagrado editor.
Alguns anos depois, já no início do século, regressou às raízes limianas e foi Administrador do Concelho de Ponte de Lima. Depois dedicou-se de novo à área comercial, com interesses numa roça de S. Tomé. Fundou uma Livraria-Editora, através da criação da sociedade "Guimarães, Libânio & Cª", com Libânio da Silva. Dissolvida a sociedade, fundou a sua "Livraria Editora Guimarães". A "Guimarães Editores" (rua de S. Roque, 68-70, Lisboa) ainda hoje existe.
No campo literário, Delfim Guimarães revelou-se um incansável autodidacta, que se foi ilustrando e apurando o gosto à medida que progredia na sua formação cultural e literária. Durante o período da sua actividade como técnico e administrador, utilizou o pseudónimo Castro Monteiro para as publicações literárias.
Como poeta, publicou uma obra considerável - "Alma Dorida" (1893), "Poemas em Prosa" (1893), "Lisboa Negra" (1893), "Confidências" (1894), "Evangelho: livro de orações" (1895), "Sonho Garrettiano" (1899), "A Virgem do Castelo" (1901; 2ª ed., 1907), "Outonais" (1903), "Alma Portuguesa: livro de versos" (1913; 2ª ed., 1927), "Livro do Bebé" (1917; 3ª ed., 1925), "Aos Soldados Sem Nome" (1921), "Asas de Portugal" (1922), "A Paixão de Soror Mariana" (1926), etc. Com esta variedade de títulos, numa enumeração não exaustiva, o autor revelou uma especial predilecção pela escrita poética.
A sua actividade neste campo reflecte influências variadas, oriundas das tendências poético-estilísticas plurais que caracterizam as décadas finais de Oitocentos e os primórdios do novo século. Por isso, não é difícil descortinar na sua escrita poética e literária as orientações maiores que marcam o neo-romantismo deste período.
Já como ficcionista, Delfim publicou menos obras, mas nem por isso interessantes. Merece destaque o romance intitulado "O Rosquedo: scenas da vida da província - Ponte do Lima - Minho" (1904; 2ª ed., 1912; 3ª ed., 2008), narrando uma história de traça camiliana, tendo como cenário o Vale do Lima. Publicou ainda o livro de contos "Ares do Minho" (1908), onde publica catorze textos (incluindo um teatral) de inspiração lendária e popular.
Como dramaturgo, Delfim Guimarães publicou vários textos teatrais, tais como: "Aldeia na Corte", drama em três actos (1901), em colaboração com D. João da Câmara; "Juramento Sagrado" (1902), comédia em um acto; 'Irmãos (Episódio da vida de província)', incluído em "Ares do Minho"; "Sol da nossa terra", um acto em verso (1932); e ainda "Manhã de S. João", um acto em verso (1939).
Delfim Guimarães afirmou-se também como editor, investigador e crítico literário, publicando vários trabalhos inovadores e polémicos no domínio da história literária.
(…)
Delfim Guimarães foi um intelectual e trabalhador de mérito, como poeta e prosador, como dramaturgo e jornalista, como crítico literário e tradutor, como ensaísta e publicista, como contabilista e gestor, como livreiro e editor. Recusou funções governamentais, como recusou integrar algumas academias culturais. Foi feito Cavaleiro da Ordem de Santiago da Espada (1908) e mais tarde Comendador da mesma Ordem (1919). Dele ficou uma considerável iconografia: carvões de Carlos Reis e de Veloso Salgado, aguarelas de Alfredo Morais e de Roque Gameiro; e caricaturas de Francisco Valença e de Sebastião Sanhudo e ainda de Roque Gameiro, que ilustrou também algumas das suas obras.
Em Maio de 1929 promoveu o leilão da sua própria biblioteca, de que publicou um catálogo com 1332 lotes, com uma tiragem especial de cinquenta plaquetas numeradas e assinadas, que ofereceu aos seus amigos.
É bem elucidativa a homenagem contida nas quase quinhentas páginas do "In Memoriam de Delfim de Guimarães", editado em 1934, logo após o seu falecimento, pelo significado e variedade dos testemunhos. No livro "Em Louvor de Viana e Outros Poemas" (1999), Amadeu Torres (Castro Gil) traça o elogio poético desta figura singular, por altura do cinquentenário da sua morte.
Sem ser limiano de nascimento, Delfim Guimarães é um dos filhos ilustres da nossa terra, afirmando ele próprio ser um limiano de afeição. Faleceu na Amadora, a 6 de Julho de 1933.
“Ponte de Lima, berço de meu Pai,
Jardim encantador do nosso Minho,
É para ti que grande parte vai
Do meu carinho...
Tão engraçada, tão risonha e clara,
Toda em vinhedos, milheirais e pomares,
– Labruja, Freixo, Rebordões, Seara –
Que belos ares!
Ai! não te esqueço, terra sonhadora,
De frescas sombras, de saudável clima;
Castelã senhoril, dominadora,
Do rio Lima!”